segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O homem e a tecnologia

Texto I

A humanidade espera com volúpia novas descobertas: substâncias para debelar definitivamente a dor, sistemas para acabar com o lixo radioativo transformado em matérias inócuas, novas fontes de energia, técnicas adequadas para eliminar o barulho e a fome e reabsorver a poluição. Paralelamente, nunca tivemos tantas ferramentas para eliminar as quatro escravidões da escassez, da tradição, do autoritarismo e do cansaço físico.
Aristóteles, citado várias vezes porque é o pai da cultura ocidental, sonhava: se cada ferramenta pudesse, a partir de uma ordem dada, trabalhar por conta própria, se os teares tecem sozinhos, se o arco tocasse sozinho nas cordas da cítara, então os empreendedores poderiam privar-se dos operários e os proprietários, dos escravos. Nunca, como hoje, estivemos tão perto da realização desse sonho: fábricas inteiramente informatizadas já estão em operação em ter dos cinco continentes. O mito de Sísifo pode finalmente ser reescrito.
Como se sabe, o herói grego foi punido pelos deuses por excesso de engenhosidade. Segundo a explicação clássica, tendo ele cometido um pecado intelectual, foi punido em compensação com uma pena material: transportar por toda a eternidade uma rocha até o topo de um monte e, quando ele precipitava de novo até a base, tornar a pegá-la e levá-la outra vez até o alto do monte. Em plena sociedade industrial, o escritor francês Albert Camus reinterpretou esse mito: sendo Sísifo um intelectual, o seu verdadeiro sofrimento não se consumava na subida, quando a sua mente estava toda ocupada pelo esforço sobre-humano de transportar a rocha até o topo. O seu verdadeiro sofrimento era quando, com a pedra mais uma vez no alto do monte, Sísifo tinha que descer a escarpada e, sem nenhum esforço, tinha toda a trágica consciência de ter sido condenado pela crueldade dos deuses a um trabalho inútil e sem esperança.
Para nós, homens pós-industriais, há uma terceira alternativa. Sísifo ao qual delegará a canseira do transporte inútil e banal e se sentará no alto do morro para contemplar o seu robô em função, saboreando enfim a felicidade do ócio prazeroso. (MASI, Domenico de. Em busca do ócio. In: Veja 25 anos: reflexões para o futuro. São Paulo: Abril, 1993, p. 48-9. Livro integrante Veja, 26 (38), 22 set. 1993.).

Texto II

Ciência, tecnologia, comunicação, ação à distância, princípio da linha de montagem: tudo isso tornou possível o Holocausto. A perseguição racial e o genocídio não foram uma invenção de nosso século e herdamos do passado o habito de brandir a ameaça de um complô judeu para desviar o descontentamento dos explorados. Mas o que torna tão terrível o genocídio nazista é que foi rápido, tecnologicamente eficaz e buscou o consenso servindo-se das comunicações de massa e do prestígio da ciência.
Foi fácil fazer passar por ciência uma teoria pseudocientífica, porque, num regime de separação dos saberes, o químico que aplicava os gases asfixiantes não julgava necessário ter opiniões sobre a antropologia física. O Holocausto foi possível porque se podia aceitá-lo e justificá-lo sem ver seus resultados. Além de um número, afinal restrito, de pessoas responsáveis e de executantes diretos (sádicos e loucos), milhões de outros puderam colaborar à distância, realizando cada qual um gesto que nada tinha de aterrador.
Assim, este século soube fazer do melhor de si e o pior de si. Tudo o que aconteceu de terrível a seguir não foi senão repetição, sem grande inovação.
O século do triunfo tecnológico foi também o da descoberta da fragilidade. Um moinho de vento podia ser reparado, mas o sistema do computador não tem defesa diante da má intenção de um garoto precoce. O século está estressado porque não sabe de quem se deve defender nem como: somos demasiado poderosos para poder evitar nossos inimigos. Encontramos o meio de eliminar a sujeira, mas não o de eliminar os resíduos. Porque a sujeira nascia da indigência, que podia ser reduzida, ao passo que os resíduos (inclusive os radioativos) nascem do bem estar que ninguém quer mais perder. Eis porque nosso século foi o da angústia e da utopia de curá-la. Com um superego mais forte, a humanidade se embaraça num mal que conhece perfeitamente, confessa-o em público, tenta purificações expiatórias às quais se juntam as igrejas e os governos e repete o mal porque ação a distância e linha de montagem impedem identificá-los no inicio do processo. Espaço, tempo, informação, crime, castigo, arrependimento, absolvição, indignação, esquecimento, descoberta, crítica; nascimento, longa vida, morte... tudo em altíssima velocidade. Um ritmo de stress. Nosso século e o do enfarte. (ECO, Umberto. Rápida Utopia. In: Veja 25 anos: reflexões para o futuro. São Paulo: Abril, 1993, p. 114-5. Livro integrante Veja, 26 (38), 22 set. 1993.).

Atividades:

Desenvolvam um texto baseando-se das seguintes questões:
- Quais as idéias prrincipais de cada texto?
- Os dois textos são incompatíveis? Um nega o outro?
- Com qual deles vocês concordam? Por quê?

O homem e o trabalho

De onde vem a palavra trabalho? (aula 27-10)

Vem do latim tripaliare - "tortura por meio de um tripalium", instrumento feito de três paus aguçados, algumas vezes ainda munidos de pontas de ferro, no qual os agricultores bateriam o trigo, as espigas de milho e o linho, para rasgá-los e esfiapá-los.
Ainda que originalmente o tripalium fosse usado no trabalho do agricultor, para o trato do cereal, é do uso desse instrumento como meio de tortura que a palavra trabalho significou, por muito tempo, algo como padecimento e cativeiro.
Assim sendo, e aliado ao sofrimento, passou a significar esforçar-se, laborar e obrar. A evolução veio a partir do século XV no sentido que vemos hoje: trabajo(espanhol); trabalho (catalão); travail (francês) e travaglio (italiano).
Para o psicanalista e escritor austríaco Igor Caruso, "o trabalho é uma inevitavel infelicidade humana".

Atividades (aula 27/10):
1- Você concorda com a concepção do psicanalista Igor ou acha que o trabalho é uma realização humana, uma realização que faz história, seja como fardo, prazer ou obrigação?

2- Observe a obra abaixo e desenvolva um texto baseando-se nas seguintes questões:
- O que você vê nessa obra?
- O que você sente ao ver essa imagem?
- Por que o ser humano trabalha?
- Será que o principal sentido da vida é trabalhar?

Clique no link e veja a imagem com melhor qualidade: http://rpassaro.zip.net/images/por.jpg

Atividades (aula 10/11) (em desenvolvimento)

1 - Leia a letra da música dos Paralamas do Sucesso

Paralamas Do Sucesso - Capitão De Indústria

Eu às vezes fico a pensar. Em outra vida ou lugar. Estou cansado demais

Eu não tenho tempo de ter.O tempo livre de ser. De nada ter que fazer. É quando eu me encontro perdido. Nas coisas que eu criei. E eu não sei. Eu não vejo além da fumaça. O amor e as coisas livres, coloridas. Nada poluídas

Eu acordo pra trabalhar. Eu durmo pra trabalhar. Eu corro pra trabalhar. Eu não tenho tempo de ter. O tempo livre de ser. De nada ter que fazer. Eu não vejo além da fumaça que passa. E polui o ar. Eu nada sei. Eu não vejo além disso tudo. O amor e as coisas livres, coloridas. Nada poluídas

Ouça a música Capitão de Indústria:http://www.youtube.com/watch?v=scdNn8M3qME

2-Tendo por base a letra da música "Capitão de indústria", exponha sua compeensão sobre a seguinte questão: que relação a música faz entre tempo e trabalho?