quinta-feira, 8 de julho de 2010

O homem e o trabalho - 7ª série

De onde vem a palavra trabalho? (aula 27-10)
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Vem do latim tripaliare - "tortura por meio de um tripalium", instrumento feito de três paus aguçados, algumas vezes ainda munidos de pontas de ferro, no qual os agricultores bateriam o trigo, as espigas de milho e o linho, para rasgá-los e esfiapá-los.
Ainda que originalmente o tripalium fosse usado no trabalho do agricultor, para o trato do cereal, é do uso desse instrumento como meio de tortura que a palavra trabalho significou, por muito tempo, algo como padecimento e cativeiro.
Assim sendo, e aliado ao sofrimento, passou a significar esforçar-se, laborar e obrar. A evolução veio a partir do século XV no sentido que vemos hoje: trabajo(espanhol); trabalho (catalão); travail (francês) e travaglio (italiano).
Para o psicanalista e escritor austríaco Igor Caruso, "o trabalho é uma inevitavel infelicidade humana".
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Atividades (aula 09/07/2010):
1- Observe a obra abaixo e desenvolva um texto baseando-se nas seguintes questões:
- O que você vê nessa obra?
- O que você sente ao ver essa imagem?
- Por que o ser humano trabalha?
- Será que o principal sentido da vida é trabalhar?

Clique no link e veja a imagem com melhor qualidade: http://rpassaro.zip.net/images/por.jpg
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2- Leia a letra da música dos Paralamas do Sucesso
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Paralamas Do Sucesso - Capitão De Indústria
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Eu às vezes fico a pensar. Em outra vida ou lugar. Estou cansado demais.
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Eu não tenho tempo de ter.O tempo livre de ser. De nada ter que fazer. É quando eu me encontro perdido. Nas coisas que eu criei. E eu não sei. Eu não vejo além da fumaça. O amor e as coisas livres, coloridas. Nada poluídas.
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Eu acordo pra trabalhar. Eu durmo pra trabalhar. Eu corro pra trabalhar. Eu não tenho tempo de ter. O tempo livre de ser. De nada ter que fazer. Eu não vejo além da fumaça que passa. E polui o ar. Eu nada sei. Eu não vejo além disso tudo. O amor e as coisas livres, coloridas. Nada poluídas.
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Ouça a música Capitão de Indústria:
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2-Tendo por base a letra da música "Capitão de indústria", exponha sua compeensão sobre a seguinte questão: que relação a música faz entre tempo e trabalho?

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O mundo está em suas mãos (5ª série)

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Um cientista vivia preocupado com os problemas do mundo e estava resolvido a encontrar meios de melhorá-los. Por isso, passava dias em seu laboratório em busca de respostas para suas dúvidas.
Certo dia, seu filho de sete anos invadiu o seu santuário decidido a ajudá-lo a trabalhar.
O cientista, nervoso pela interrupção, tentou que o filho fosse brincar em outro lugar.
Vendo que seria impossível removê-lo, o pai procurou algo que pudesse ser oferecido a ele, com o objetivo de distrair sua atenção.
De repente, deparou-se com o mapa do mundo, e pensou: é isso
Com o auxílio de uma tesoura, recortou o mapa em vários pedaços e, junto com um rolo de fita adesiva, entregou ao filho dizendo:
- Você gosta de quebra cabeças, não é? Então vou lhe dar o mundo para consertar.
Aqui está o mundo todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho! Faça tudo sozinho.
Calculou que a criança levaria dias para recompor o mapa. Passada algumas horas, ouviu a voz do filho que o chamava calmamente:
- Pai, pai,… já fiz tudo!… Consegui terminar tudinho!
A princípio, o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível, na sua idade, recompor um mapa que jamais havia visto.
Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança. Para sua surpresa, o mapa estava completo. Todos os pedaços haviam sido colocados nos seus devidos lugares. Como era possível? Como o menino havia sido capaz?
-Você não sabia como era o mundo, meu filho. Como conseguiu?
Pai, eu não sabia como era o mundo, mas, quando você tirou o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem.
Quando você me deu o mundo para consertar, eu tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem.
Então, virei os recortes e comecei a consertar o homem, que eu já conheço bem.
Quando consegui consertar o homem, virei a folha, e vi que havia consertado o mundo.


COTRIN, Gilberto. Reflexões do dia-a-dia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 101 e 145.
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Atividades:
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1 - Leia com atenção a afirmativa abaixo:
Quando concertamos o homem concetamos também o mundo
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- você concorda ou não com ela? Seja qual for a sua opinião, justifique-a.
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2- Qual é a relação do homem com o mundo?

domingo, 25 de abril de 2010

Filosofia e Ciência (aula 2) - 8ª série e Ensino Médio

Tema da aula

Período Cosmológico: os pré-socráticos
ou filósofos da natureza

Problematização (explicitação) do tema

Sabemos que o senso comum (conhecimento espontâneo) perpassou toda a história da humanidade, trazendo muitas contribuições para os sujeitos em nossa sociedade atual, tanto nas relações com seus semelhantes quanto na resolução de problemas do dia-a-dia. Sabemos também que o método científico-experimental é fruto de uma metodologia conquistada recentemente pela humanidade. Porém, precisamos saber que tipo de ciência predominou entre os filósofos antigos, quando os mesmos, a aproximadamente 2.500 anos atrás, desvincularam a razão do pensamento mítico.
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Objetivos
Conteúdos
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1 . Compreender qual é a relação entre filosofia e ciência no mundo antigo;
2. Compreender qual era o método utilizado pela filosofia e pela ciência na antiguidade;

Habilidades:

1. Auxiliar para que os alunos desenvolvam a capacidade de analisar e interpretar de forma coerente tanto os textos, quanto a própria realidade;
2. Auxiliar os alunos a desenvolverem a habilidade de concentração, bem como a capacidade de escrever e sistematizar logicamente;
3. Ajudar os alunos a criar suas próprias formas de pensar, bem como de levantar e enfrentar problemas por meio do raciocínio lógico.

Procedimentos e materiais
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1º Passo: Apresentação das pesquisas solicitadas na aula anterior sobre os pré-socráticos.
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Vídeos que poderão subsidiar o trabalho do professor e complementar as apresentações dos alunos.
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Os Pré-socráticos - arkhé versus ousia: http://www.youtube.com/watch?v=uT8s-6nLhHY&feature=related

sábado, 3 de abril de 2010

Filosofia e Ciência (aula 1) - 8 série e Ensino Médio

Tema da aula

Distinção entre senso comum, conhecimento científico e filosofia
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Problematização (explicitação) do tema

Nesta aula iremos buscar compreender dois conceitos fundamentais para começarmos a entender um pouco dos aspectos históricos, tanto da filosofia quanto da ciência, que perpassaram desde a ciência grega até o mundo contemporâneo, a saber: o senso comum (conhecimento espontâneo) e o conhecimento científico. O senso comum esteve sempre presente na vida das pessoas, já o conhecimento cientifico é, conforme Arranha e Martins, “uma conquista recente da humanidade: tem apenas trezentos anos e surgiu no século XVII com a revolução galileana” (1986, p. 119). Porém, mesmo que o método científico abranja uma pequena parte da historia da humanidade, o conhecimento tanto dos antigos quanto dos medievais não eram extraídos apenas do senso comum. Mas conforme as mesmas autoras salientam, “desde a Grécia de antes de Cristo, os homens aspiram a um conhecimento que se distinga do mito e do senso comum” (ibidem), isso porque nessa época já havia um saber rigoroso.
Será de extrema importância analisar nesta aula, juntamente com o senso comum e o conhecimento científico, o que se entende por filosofia e qual seu papel exercido em relação aos dois primeiros conceitos. Dessa forma, poder-se-á compreender as três formas de conhecimentos presente nos conteúdos a serem trabalhados no estágio I.
Para compreendermos esses três tipos de saberes (senso comum, conhecimento científico, filosofia) devemos primeiramente entender algumas questões que nos possibilitaram entender com maior precisão esses conceitos. As principais questões a serem analisadas nesta aula serão as seguintes:
1. Que tipo de conhecimentos abrange o senso comum?
2. Ele tem alguma importância na vida das pessoas?
3. Ele é inato nos seres humanos ou é desenvolvido histórico e culturalmente por meio das experiências?
4. Tem algum problema em permanecemos, em nossos dias atuais, com nossos conhecimentos apenas no nível do senso comum?
5. O que é o conhecimento científico?
6. Ele é inato nos seres humanos ou é constituído mediante experiências?
7. Quais são as principais especificidades do conhecimento científico que o diferencia do senso comum?
8. Qual é a relação entre filosofia e senso comum?
9. Qual é o papel desempenhado pela filosofia em relação à ciência?
(obs: Nesta aula será trabalhado o conhecimento cientifico apenas de forma superficial, onde não será adentrado em questões sobre a abrangência e limites de tal conhecimento. Esse problema será trabalhado no decorrer de algumas aulas)

5. Objetivos

Conteúdos:

1. Identificar quais são as principais especificidades que compõem o senso comum e o conhecimento cientifico, bem como suas respectivas diferenças;
2. Compreender qual é o papel exercido pelo senso comum na relação homem-mundo;
3. Compreender como se origina tais conhecimentos na vida dos seres humanos, bem como se todos os possuem;

Habilidades:

1. Auxiliar para que os alunos desenvolvam a capacidade de analisar e interpretar de forma coerente tanto os textos, quanto a própria realidade;
2. Auxiliar os alunos a desenvolverem a habilidade de concentração, bem como a capacidade de escrever e sistematizar logicamente;
3. Ajudar os alunos a criar suas próprias formas de pensar, bem como de levantar e enfrentar problemas por meio do raciocínio lógico.
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Procedimentos e Materiais (indicação)
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1º Passo: Apresentar para a turma os procedimentos adotados e o tema a ser trabalhado nesta aula: cabe aqui salientar o que será discutido, neste caso o senso comum, o conhecimento cientifico, bem como, o modo como esses conceitos serão trabalhados nesta aula. Serão explicados aqui os passos seguintes;

2º Passo: Levantar para os alunos as seguintes questões: Vocês já ouviram falar em senso comum e conhecimento científico? O que você entende por senso comum? E por conhecimento científico? Ao mesmo tempo em que as perguntas vão sendo direcionadas aos alunos serão expostas no quadro as suas respectivas respostas;

3º Passo: Entregar, para os aos alunos lerem, o texto “Senso comum e conhecimento cientifico”[1] (vide em anexo texto) e o capítulo 1 “Atitude científica” de uma das obras de Marilena Chauí[2] (Convite à filosofia). Porém os alunos não irão ler os dois textos, mas sim apenas um deles, isto é, metade da turma lerá um e a outra metade o outro. (8 min).

4º Passo: Levantar as questões para então iniciar o debate: as questões que serão utilizadas para esse debate são aquelas presentes no item problematização (explicitação) do tema, somente da questão 1 até a 7. Elas serão, após a leitura do texto, direcionada aos alunos, para poder assim fazer com que os mesmos não apenas escutem, mas que também participem ativamente das aulas.
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Para melhor compreender a diferença entre conhecimento científico e senso comum recomendo assistir com os alunos o vídeo "Senso comum e a Ciência":

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5º Passo: Após entendermos esses dois conceitos, será introduzido um terceiro, o da filosofia, onde será feita uma comparação desse em relação aos dois primeiros, buscando responder as questões expostas no item problematização (explicitação) do tema, sendo que serão utilizadas somente as questões 8 e 9. Para Melhor compreender o que é filosofia recomendo assistir com os alunos o primeiro episódio da série "Ser ou não Ser" do Fantástico, apresentado por Viviane Mosé:
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6º Passo: Pedir para os alunos escreverem em casa o que eles entenderam por senso comum, conhecimento científico e conhecimento filosófico.
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7º Passo: Dividir a turma em grupos para que os alunos pesquisem em casa sobre os principais filósofos pré-socráticos, para apresentar na próxima aula (na verdade sempre reservo um tempo de duas ou três semanas para eles pesquisarem. Como esse planejamento precisa de duas ou tres aulas para pô-lo em prática, o bom seria propor essa pesquisa logo no início das atividades referentes aos conceitos Senso Comum, Conhecimento Científico e Conhecimento Filosófico).

[1] Esse texto não possui nenhuma referencia específica, pois foi uma montagem do próprio professor baseando-se em partes de um texto (xerox) sem referência e em partes e resultado de sua própria reconstrução.
[2] Este capítulo foi extraído da unidade 7, nomeado de “A ciência”, da obra “Convite à filosofia” de Marilena Chauí, p. 216-220.
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Anexos
Senso comum e Conhecimento Científico
1. Senso comum

Em nossa vida quotidiana necessitamos de um conjunto muito vasto de conhecimentos, relacionados com a forma como a realidade em que vivemos funciona: temos que saber como tratar as pessoas com as quais nos relacionamos, temos que saber como nos devemos comportar em cada uma das circunstâncias em que nos situamos no nosso dia-a-dia: a forma como nos comportamos em nossa casa é diferente da forma como nos comportamos numa repartição pública, numa discoteca, num cinema, na escola, etc. Estamos também rodeados de sistemas de transporte, de informação, de aparelhos muito diversos, com os quais temos que saber lidar. De fato, para apanharmos o comboio, por exemplo, temos que saber muitas coisas: o que é um comboio e a sua função, como se entra numa estação, como se compra o bilhete, como devemos esperar o comboio, etc.
Estes conhecimentos, no seu conjunto, formam um tipo de saber a que se chama senso comum. O senso comum é um saber que nasce da experiência quotidiana, da vida que os homens levam em sociedade. É, assim, um saber acerca dos elementos da realidade em que vivemos; um saber sobre os hábitos, os costumes, as práticas, as tradições, as regras de conduta, enfim, sobre tudo o que necessitamos para podermos orientar-nos no nosso dia-a-dia: como comer à mesa, acender a luz de uma sala, ligar a televisão, como fazer uma chamada telefônica, o nome das ruas da localidade onde vivemos, etc., etc...
Você, com certeza, já deve ter ouvido alguém dizer: "Dize-me com que andas que eu te direi quem és"; ou: "Mais vale um pássaro na mão do que dois voando". Esses dois exemplos nos mostram com o senso comum se manifesta através dos ditos populares, das crenças do povo. É um verdadeiro receituário para o homem resolver os seus problemas da vida diária. É um saber não-sistematizado mas muito útil para guiar o homem na sua vida cotidiana.
É, por isso, um saber informal, que se adquire de uma forma natural (espontâneo), através do nosso contacto com os outros, com as situações e com os objetos que nos rodeiam. É um saber muito simples e superficial, que não exige grandes esforços, ao contrário dos saberes formais (tais como as ciências) que requerem um longo processo de aprendizagem escolar. O senso comum adquire-se quase sem se dar conta, desde a mais tenra infância e, apesar das suas limitações, é um saber fundamental, sem o qual não nos conseguiríamos orientar na nossa vida quotidiana.
Sendo assim, torna-se facilmente compreensível que todos os homens possuam senso comum, mas este varia de sociedade para sociedade e, mesmo dentro duma mesma sociedade, varia de grupo social para grupo social ou, também, por exemplo, de grupo profissional para grupo profissional.
Mas, sendo imprescindível, o senso comum não é suficiente para nos compreendermos a nós próprios e ao mundo em que vivemos, pois se na nossa reflexão sobre a nossa situação no mundo, nos ficarmos pelos dados do senso comum, por assim dizer os dados mais básicos da nossa consciência natural, facilmente caímos na ilusão de que as coisas são exatamente aquilo que parecem, nunca nos chegando a aperceber que existe uma radical diferença entre a aparência e a realidade. Somos, imperceptivelmente, levados a consolidar um conjunto solidário de certezas, das quais, como é óbvio, achamos ser absurdo duvidar: temos a certeza de que existimos, de que as coisas que nos rodeiam existem, que aquilo que nos acontece é irrefutável, de que aquilo q a mídia nos transmite é necessariamente verdadeiro etc...
Contudo essas certezas são questionáveis, pois se baseiam em aparências. E há muitas aparências que se nos impõem com uma força quase irresistível, por exemplo: aparentemente o Sol move-se no céu (não é verdade que esta foi uma convicção aceite, durante muitos séculos, pela comunidade científica?). Podemos mesmo aprender a medir o tempo a partir desse movimento aparente. Mas, na realidade, esse movimento aparente do Sol é gerado pelo movimento de rotação da terra.
O conhecimento que temos através dos sentidos é forçosamente incompleto e filtrado, pois os nossos órgãos receptores só são estimulados por determinados fenômenos físicos, deixando de lado um campo quase infinito de possíveis estímulos (por exemplo, os nossos olhos não captam quer a radiação infravermelha, quer a radiação ultravioleta, ao passo que há seres vivos que o podem fazer, o mesmo se passando com os ultra-sons). É portanto inquestionável que não conhecemos, sensorialmente, a realidade tal como ela é.
Sendo assim, os sentidos parece que nos enganam, pois os dados que nos fornecem acerca da realidade são insuficientes para alcançarmos um conhecimento verdadeiro, ou objetivo, da mesma. Por isso a Razão permite-nos alcançar conhecimentos que nunca poderíamos alcançar através apenas dos sentidos.

2. Conhecimento científico

Diferentemente do senso comum, o conhecimento cientifico é uma conquista recente da humanidade: tem apenas trezentos anos e surgiu no século XVII com a revolução galileana. Isso não significa que antes dessa data não houvesse nenhum saber rigoroso, pois, como veremos nas próximas aulas, desde a Grécia de antes de Cristo, os homens aspiram a um conhecimento que se distinga do mito e do saber comum. Sócrates, por exemplo, preocupava-se com a definição dos conceitos, através do qual pretendia atingir a essência das coisas. E Platão mostrava o caminho que a educação do sábio devia percorrer para ir da doxa (opinião) à episteme (ciência). Nesse caso, a ciência grega encontrava-se ainda vinculada à filosofia e dela se separa quando procura seu próprio caminho, ou seja, o seu método, o que vai ocorrer apenas na idade moderna.
A preocupação do cientista moderno está na descoberta das regularidades que existem em determinados fatos. Por isso, a ciência é geral, isto é, as observações feitas para alguns fenômenos são generalizadas e expressas pelo enunciado de uma lei.
Além do mais, as ciências procuram explicar de forma sistemática os fatos. Na sua procura de explicações sistemáticas, as ciências devem reduzir a indeterminação indicada da linguagem comum ao remodelá-la. A química física, por exemplo, não se satisfaz com a generalização, formulada de uma maneira vaga, segundo a qual a água solidifica quando é suficientemente arrefecida, já que o objetivo desta disciplina é o de explicar, entre outras coisas, por que a água e o leite que bebemos congelam a certas temperaturas, embora a essas temperaturas não aconteça o mesmo com a água do oceano. Para atingir este objetivo, a química física deve então introduzir distinções claras entre vários tipos de água e entre várias quantidades de arrefecimento. Várias técnicas reduzem a vagueza e aumentam a especificidade das expressões lingüísticas. Para muitos propósitos, contar e medir são as técnicas mais eficientes, e talvez sejam também as mais conhecidas. Os poetas podem cantar a infinidade de estrelas que permanecem no céu visível, mas o astrônomo quer especificar o seu número exato. O artesão que trabalha com metais pode ficar satisfeito por saber que o ferro é mais duro do que o chumbo, mas o físico que quer explicar este fato tem de ter uma medida precisa da diferença em dureza. Uma conseqüência óbvia, mas importante, da precisão assim introduzida é a de que as proposições se tornam susceptíveis de ser testadas pela experiência de uma maneira mais crítica e cuidada. As crenças pré-científicas são freqüentemente insusceptíveis de ser sujeitas a testes experimentais definidos, simplesmente porque essas crenças são compatíveis de uma maneira vaga com uma classe indeterminada de fatos que não são analisados. As proposições científicas, como têm de estar de acordo com dados da observação bem especificados, enfrentam riscos maiores de ser refutadas por esses dados.Embora a maior determinação das proposições científicas as exponha a riscos de se descobrir que estão erradas, maiores do que aqueles que enfrentam as crenças do senso comum (enunciadas com menos precisão), as primeiras têm uma vantagem importante sobre as segundas. Elas têm uma capacidade maior para ser incorporadas em sistemas de explicação amplos e claramente articulados. Quando esses sistemas são adequadamente confirmados por dados experimentais, revelam muitas vezes relações de dependência surpreendentes entre muitos tipos de fatos experimentalmente identificáveis, mas diferentes.
(Esse texto não possui nenhuma referencia específica, pois foi uma montagem do próprio professor baseando-se em partes de um texto (xerox) sem referência e em partes e resultado de sua própria reconstrução).
Referências bibliográficas

ALVES, Rubens. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.

ARANHA, Maria L. de A; MARTINS, Maria H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1986.

CHUÌ, Marilena de S. Convite à filosofia. 12.ed. São Paulo: Ática, 2002.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Liberdade - 7ª série (continuação das atividades realizadas em sala de aula)



Obra de arte "Mulheres correndo na praia" de Pablo Picasso. (Já trabalhada)

1 Leia o trecho do texto “Ética para meu filho” de Fernando Savater (p. 29-30):

“Na realidade existem muitas forças que limitam nossa liberdade, desde terremotos e doenças até tiranos. Mas nossa liberdade também é uma força no mundo, nossa força. No entanto, se você conversar com as pessoas verá que a maioria tem muito mais consciência do que limita sua liberdade do que da própria liberdade. Muita gente lhe dirá: “Liberdade? Mas de que liberdade você está falando? Como podemos ser livres se nos fazem a cabeça através da televisão, se os governantes nos enganam e nos manipulam, se os terroristas no ameaçam, se as drogas nos escravizam, e se, além de tudo, não tenho dinheiro para comprar uma moto, que é o que eu desejaria?”Se você prestar um pouco de atenção,verá que aqueles que falam assim parece estar se queixando mas, na verdade, estão muito satisfeitos por saber que não são livres. No fundo, eles pensam: “Ufa! Que peso tiramos de cima de nós! Como não somos livres, não podemos ter culpa de nada que nos aconteça...” Mas tenho certeza de que ninguém – ninguém – acredita de verdade que não é livre, ninguém aceita tranquilamente que funciona como um mecanismo inexorável de relógio ou como uma térmita. Podemos achar que optar livremente por certas coisas em certas circunstancias é muito difícil (entrar numa casa em chamas para salvar uma criança, por exemplo, ou enfrentar um tirano com firmeza) e que é melhor dizer que não há liberdade para não reconhecermos que preferimos livremente o mais fácil, ou seja, esperar os bombeiros ou lamber as botas de que está pisando em nosso pescoço. Mas em nossas estranhas alguma coisa insiste em dizer: “Se eu quisesse...” Resumindo: ao contrário de outros seres, animados ou inanimados, nós podemos inventar e escolher, em parte, nossa forma de vida. Podemos optar pelo que nos parece bom, ou seja, conveniente para nós, em oposição ao que nos parece mau e inconveniente.”

2 Comparando suas idéias com as idéias até então debatidas e com as idéias apresentadas no texto realize a seguinte atividade:

- Construa um texto sobre o tema: “Liberdade e responsabilidade”.

Perguntas que poderão auxiliar:
O que é ser livre?
Somos realmente livres?
Qual é a relação entre liberdade e escolha?
Posso fazer escolhas se não sou livre?
Se sou livre posso escolher fazer tudo o que eu quiser?
Minhas escolhas poderão prejudicar a mim e aos outros?
È possível sermos livres e ao mesmo tempo assumir responsabilidades ou regras?
Se suas escolhas forem irresponsáveis, poderá tirar a liberdade de outras pessoas, ou vice-versa? (ex: transitar pela avenida a 120KM/H ou bater nos colegas).
Podemos ser livres em um mundo de irresponsabilidades ou onde todos possam fazer o que quiserem?
Como saberei se minhas escolhas são boas ou más?

segunda-feira, 1 de março de 2010

Quem determina nossas escolhas? - 8ª série

Após ler o texto “Quem determina nossas escolhas?” em sala de aula e dissertado sobre algumas questões, realize as seguintes atividades:

( Aula 2) 1- Atividade com a música Free Will da Banda Rush:

a) Letra da música:

Livre Arbítrio





Há aqueles que pensam que a
vida não deixou nenhuma oportunidade,
Um lugar de horrores santos
Que direciona nossa dança sem propósito.

Um planeta de marionetes,
Nós dançamos numa corda
De forças sobrenaturais
"As estrelas não estão alinhadas,
Ou os deuses são malignos..."
Culpa é melhor de dar do que receber

Você pode escolher um guia pronto em alguma voz celestial
Se você escolher não decidir, ainda assim você fez uma escolha
Você pode escolher entre medos-fantasma egentilezas que podem matar;
Eu escolherei um caminho que é iluminado -
Eu escolherei livre- arbítrio

Há aqueles que pensam que estão lidando
com uma mão perdida,
As cartas foram embaralhadas contra eles - eles
não nasceram em Lotus-Land.

Tudo preordenado.
Um prisioneiro acorrentado
Uma vítima de má sorte.
Chutado na cara,
Você não pode rezar por um lugar
No estado não-terreno do céu.

Cada um de nós
Uma célula de consciência
Imperfeita e incompleta
Misturas genéticas
Com fins incertos
Numa caçada de sorte que está longe de acabar.

Letra disponível em:http://letras.terra.com.br/rush/34599/traducao.html

Video da Música disponivel em: http://www.youtube.com/watch?v=OnxkfLe4G74

b) Resolva as seguintes questões subjetivas:

- Como você interpreta a seguinte afirmação: se você escolher não decidir, ainda assim você fez uma escolha? Você acha que é possível alguém decidir não escolher? Quais são as implicações dessa atitude?

- Qual é a possivel relação entre a possível malignidade dos deuses e a culpa? E o que você pensa da constatação do compositor ao afirmar que somos uma célula de consciência "imperfeita e incompleta, misturas genéticas, com fins incertos, numa calçada de sorte que está longe de acabar"? Que nossas escolhas requerem sorte?

(Aula 3) Trabalho com um trexo da obra Olhai os lírios do campo (Érico Verissimo) : (Não há respostas dos alunos a essa atividade porque foi realizada em sala de aula)

Texto (p. 12 - 15):


Um dia, caiu um raio na casa do velho Galvão, matando-o e ferindo-lhe a filha. A mãe disse: “Deus castigou. Eles eram muito malvados”. Além do castigo da professora, do castigo dos pais da gente, havia então um castigo maior, muito maior - o castigo de Deus?
Eugênio temia esse Deus que em vão a mãe lhe queria fazer amar. Quando à noite rezava o “Padre nosso que estais no céu...” – ele imaginava um ser de forma humana, mas terrível, misterioso e implacável. Era invisível, mas estava em toda a parte, até nos nossos pensamentos. A idéia do pecado, então, começou a perturbar Eugênio. Estudava as lições e portava-se bem na aula porque temia os castigos da professora. Não fumava, não dizia nomes feios nem “fazia bandalheiras” porque tinha medo dos castigos da mãe. Fugia dos maus pensamentos e não fazia má-criações nem às escondidas, porque Deus estava em todos os lugares e enxergava tudo. Um dia, enumerando a lista dos grandes pecados, alguém lhe disse: “Não amar os pais é pecado”. Então ele estava pecando! Por mais que se esforçasse não podia amar aquele pai que nunca chegava a erguer a voz para o repreender.
Na escola os outros meninos contavam vantagens e proezas de pessoas da família. “Meu pai já foi no Rio de Janeiro... O teu já foi?” “Meu tio derrubou um negro com um soco”. “Tenho um irmão que é remador do Barroso”. Genoca , humilhado ficava escutando num silêncio invejoso. Não tinha nada a contar. Seu pai era apenas o pobre Ângelo (...).
Eugênio não esquecia o que se passara havia alguns dias. Seu Jango do armazém tinha vindo em pessoa cobrar a conta atrasada.
- Diga que não estou, Alzira, que fui à Intendência... - cochichou Ângelo, com ar alarmado.
D. Alzira deu o recado:
- Olhe, seu Jango, não vê que o Ângelo não está em casa...
Atrás da porta do quarto, Ângelo escutava, mordendo o lábio. Ouviram-se passos fortes no corredor. E a voz de D. Alzira, mais apressada, já aflita.
- Mas, seu Jango, que é isso? Eu lhe disse que o Ângelo saiu...
Jango entrou de sopetão na varanda. Era um homem alto forte, moreno, de dentes muito brancos. Quando o viu entrar assim, em mangas de camisa, com os braços musculosos e peludos à mostra, Ernesto cochichou ao ouvido de Eugênio :
- Credo! Parece o Maciste.
Estranho... Eugênio, ao vê-lo, pensou logo no Destino. Sempre que acontecia à família alguma coisa desagradável, D. Alzira dizia: - “Foi o Destino”
O Destino era um ser cruel, todo-poderoso e implacável. Seu Jango era o Destino.
Ângelo não teve outro remédio senão aparecer. Saiu do esconderijo, acovardado, de cabeça baixa.
- Então, seu Ângelo, enganando os outros, hem? Pensa que eu sou algum pascácio? Conheço bem a minha freguesia.
- Ora, seu Jango - murmurou Ângelo, mal ousando encarar o credor. - Não foi por mal. A gente quando deve tem vergonha.
- É muito fácil dizer. Se tem vergonha, por que não paga? Eu não vivo da brisa, vendi e quero o meu dinheirinho.
- O senhor tenha paciência... - interveio D. Alzira.
- Estou para entregar uma roupa a um freguês... – reforçou Ângelo. - Vou receber aí uns oitenta e cinco mil réis e então...
Jango alteou a voz:
- Essa cantiga é muito conhecida. Todo o mundo vai receber dinheiro, mas ninguém paga. O senhor devia era ter mais vergonha nessa cara, ouviu?
Ângelo estava pálido. Eugênio ouviu-o murmurar, numa súplica:
- Seu Jango, por favor, os meninos estão ouvindo...
- Pois que ouçam, que saibam que o pai deles é um grandessíssimo caloteiro.
Saiu pisando duro e bateu com a porta.

Questões

a) De acordo com a mãe de Eugenio, a maldade é castigada por Deus. O castigo de Deus parecia ser o maior castigo de todos; superava em muito os castigos dos pais e da professora. Diante disso, converse com o colega, pense sobre como eram as escolhas de Eugênio e depois escreva o que você pensou.

b) A situação vivida por seu Ângelo eramesmo culpa do destino, como pensava D. Alzira e depois Eugênio? O que você pensa sobre o destino? Concorda com a opinião de Eugênio, que definia o destino como um ser cruel, todo-poderoso e implacável? Por quê?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Deus ou o Dinheiro?

Campanha da Fraternidade 2010
Selvino Heck *

Um grande jornal do sul fez a seguinte manchete, em letras garrafais, na quarta-feira de cinzas, dia do lançamento da Campanha da Fraternidade/2010: "Igrejas se unem em crítica à economia". Nas matérias internas escreve: "A Campanha da Fraternidade de 2010 coloca a partir de hoje a ética cristã em guerra com o espírito do capitalismo. Na mira de bispos, pastores e reverendos figuram inimigos como a ânsia por lucro, o agronegócio, o capital especulativo, o consumismo e o sistema financeiro internacional. Uma análise dos documentos e materiais da Campanha da Fraternidade deste ano revela uma sintonia com o discurso adotado por entidades como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ou eventos como o Fórum Social Mundial".
A colunista política do mesmo jornal intitula sua análise: "Utopia nas igrejas". E escreve: "Com o tema Economia e Vida e idéias que parecem ter saído de documento do Fórum Social Mundial, do programa de um partido socialista, de um congresso de estudantes ou mesmo de uma reunião do MST, a Campanha da Fraternidade 2010 tem potencial para acender polêmicas em todos os cantos do país. O slogan ‘Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro’, extraído do Evangelho de São Mateus, dá uma idéia do que se ouvirá nas igrejas e templos durante a quaresma. Tudo o que os organizadores da campanha propõem para ocupar o lugar dos bancos, da globalização e do agronegócio -cooperativas, redes solidárias, agricultura familiar e redes de microcrédito- tem espaço na sociedade, mas como uma opção a mais, não como substituto. Lutar contra a globalização é remar contra a maré: ela está na vida dos fiéis de qualquer credo".
Mais uma vez, a demonização e a criminalização dos movimentos sociais é a pauta principal de setores da grande mídia. MST e Fórum Social Mundial são apresentados como inimigos do povo e da pátria e, por associação, as igrejas cristãs que participam e organizam a Campanha da Fraternidade. Ao mesmo tempo são apresentados como românticos incuráveis, que têm sonhos irrealizáveis e, vejam só, ainda falam em ‘utopias’.
Nem parece que o mundo atravessa a pior crise econômica dos últimos 70 anos, com quebra de bancos e empresas, desemprego em massa nos países ricos, empobrecimento da população, fruto do lucro desmedido, da ganância desenfreada, do consumismo, da financeirização da economia e das teses neoliberais do Estado mínimo e do mercado livre e absoluto.
Vale a pena (re)ler o Evangelho de São Mateus e (re)descobrir o contexto de sua radicalidade. A afirmação de Jesus - Ninguém pode ser vir a dois senhores, porque ou aborrecerá um e amará o outro, ou apreciará o primeiro e desprezará o segundo. É impossível servir a Deus e ao dinheiro - vem no mesmo capítulo em que Jesus ensina o Pai Nosso: "Por isso, vocês têm que orar assim. (...) Venha o teu reino, seja feita a tua vontade na terra como no céu. Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia" (Mt, 6,9. Em seguida Jesus diz: "Não amontoeis riquezas na terra, onde se põem a perder, porque a traça e a ferrugem as destroem, os ladrões assaltam e roubam" (Mt, 6,19). E na seqüência: "Por isso lhes digo: Não andem preocupados por sua vida, que vamos comer, ou por seu corpo, que vamos vestir. Não vale mais a vida que o alimento e o corpo mais que a roupa? Olhem como as aves do céu não semeiam, nem colhem, nem guardam em celeiros, e o Pai celestial as alimenta. Não valem vocês mais que as aves?" (Mt 6, 25-26.
O tema da Campanha da Fraternidade/2010, promovida pelo Conselho das Igrejas Cristãs - CONIC -, formado pela Igreja católica, pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, pela Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, pela Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e pela Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, coloca o dedo na ferida. Estamos em tempos em que o capital e o sistema que o sustenta, o capitalismo, santificam o individualismo, a ganância, o consumismo, desprezando valores como a solidariedade, a partilha, o fazer coletivo. Tempos em que o meio ambiente e a natureza não servem mais à humanidade como fonte de bem viver, mas apenas como lucro e acúmulo de riqueza, levando ao aquecimento global, aos desastres e desequilíbrios naturais, à falta de água e ao ar irrespirável.
Urge, pois, como diz Campanha da Fraternidade, "denunciar a perversidade de todo modelo econômico que vise em primeiro lugar o lucro, sem se importar com a desigualdade, miséria, fome e morte; educar para a prática de uma economia de solidariedade, de cuidado com a criação e valorização da vida como o bem mais precioso; conclamar as Igrejas, as religiões e toda a sociedade para ações sociais e políticas que levem à implantação de um modelo econômico de solidariedade e justiça para todas as pessoas."
A Economia Solidária, com seus milhares de grupos, cooperativas e redes espalhados por todo Brasil, é uma possibilidade de "pensar outra economia rumo a outro desenvolvimento, uma outra economia possível", com base em valores como a cooperação, a autogestão, solidariedade, "construindo a produção sustentável, o comércio justo, o consumo solidário". Para isso, é preciso incentivar as trocas solidárias, as cooperativas de crédito, os bancos comunitários, o microcrédito solidário, os fundos rotativos solidários.
Além disso, propõe a Campanha da Fraternidade, é preciso construir uma educação e cultura solidárias, a partir de experiências existentes como os Centros de Formação em Economia Solidária, as Escolas Família Agrícola, a Assistência técnica em Economia Solidária, as Incubadoras Populares e Universitárias, a Rede TALHER de Educação Cidadã, a Educação de Jovens e Adultos, os Jogos Cooperativos.
Não é crime sonhar e alimentar utopias, fortalecendo uma economia a serviço da vida. No mundo de hoje, elas são urgentes, necessárias e, principalmente, possíveis.

* Assessor Especial do Presidente da República do Brasil. Da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política

Economia e Vida

Campanha da Fraternidade 2010

Manfredo Araújo de Oliveira *

As Igrejas cristãs do Brasil que fazem parte do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs decidiram realizar este ano a terceira Campanha da Fraternidade Ecumênica. Este gesto pretende ser realizado no sentido de aprofundar nossa vida democrática, porque o que se quer na realidade é no reconhecimento pleno e explícito da laicidade do Estado dar uma contribuição para a construção de uma sociedade verdadeiramente promotora da dignidade do ser humano. Isto já se revela no testemunho destas igrejas de respeito à totalidade da existência humana e no seu empenho na busca daquele conjunto de condições sociais que possibilitam o desenvolvimento integral da personalidade humana.
O propósito da campanha já se exprime na explicitação dos objetivos fundamentais: "É necessário conclamar a todos e todas para construir uma nova sociedade, educar essa mesma sociedade afirmando que um novo modelo econômico é possível, e denunciar as distorções da realidade econômica existente, para que a economia esteja a serviço da vida". Em última análise o que se deseja é que a campanha seja capaz de mobilizar não só estas igrejas, mas as forças vivas da sociedade civil no sentido da procura de respostas concretas e eficazes às necessidades básicas das pessoas e à salvaguarda da natureza a partir de mudanças profundas, tanto a nível pessoal como comunitário e estrutural, derivadas de uma visão de mundo em que a justiça e a solidariedade constituam valores estruturantes.
Onde se situa para estas igrejas a questão de fundo que marca hoje nossas formações sociais? Na contraposição entre duas lógicas: a lógica do mercado e a lógica da vida. Em primeiro lugar trata-se de um fato: nossas sociedades têm no mercado o mecanismo central de sua estruturação, ou seja, são sociedades em que bens e serviços são vendidos e comprados, em que se produz em função da venda e da compra. No entanto se tem consciência que isto não é um fato qualquer, porque a maneira de organizar a sociedade em todos os seus níveis toca diretamente a dignidade do ser humano e sua capacidade de se desenvolver na família e na sociedade.
Por esta razão se desce a um segundo nível de indagação e se procura entender a lógica que rege este processo que é a lógica da acumulação do capital independentemente se isto conduz à destruição da natureza e à produção sistêmica da miséria de muitas famílias. Assim, chega-se à conclusão que todo este processo não está organizado em função da vida humana o que faz com que exigências humanas importantes para a vida digna não possam simplesmente ser satisfeitas através do mecanismo de mercado. É isto que permite um julgamento ético desta configuração da vida social a partir da constituição do ser humano e de sua dignidade. Numa palavra, a economia é uma dimensão fundamental da vida e por esta razão o julgamento de suas instituições e de suas políticas se deve fazer a partir de um critério básico: a maneira de elas protegerem ou destruírem a vida e a dignidade da pessoa humana.
Daí a afirmação ética básica: "Cada pessoa tem o direito fundamental à vida e, portanto, o direito a todas as coisas necessárias para uma vida de qualidade. As pessoas têm direito a viver e a satisfazer as necessidades básicas. Essas não consistem apenas em alimentação, vestuário e moradia, mas também educação, saúde, segurança, lazer, garantias econômicas e oportunidades de desenvolver todas as capacidades de que a pessoa é dotada". Ora é precisamente esta vida que está ameaçada em nossa sociedade em que viviam em 2007 10,7 milhões de indigentes (famintos) e 46, 3 milhões de pobres segundo dados fornecidos pelo Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade (IETS). A conjugação entre esta situação, a lógica do processo econômico que nos rege e seu julgamento ético nos leva a uma exigência fundamental: a busca de uma nova forma de organização social que ponha a vida humana acima dos interesses do mercado.

* Doutor em Filosofia e professor da UFC. Presidente da Adital